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domingo, 31 de agosto de 2008

BRASIL, O PAÍS DO FUTEBOL



Acompanhei com freqüência as Olimpíadas da China. E o que vi é uma quantidade maior de derrotas prematuras de alguns atletas favoritos, um número de medalhas de bronze considerado “indigesto” e diversos jornalistas se perguntando quais são os problemas psicológicos de nossos atletas nas horas decisivas. Recentemente, vi um psicanalista apontar a hipótese de uma sabotagem do próprio inconsciente do atleta Diego Hipólito, como origem de sua única falha na final olímpica.

Sabem o que eu acho? Acho realmente que o psicológico dos atletas brasileiros nas horas decisivas é o menor dos leões (em grande parte dos casos). O que abala a seleção brasileira feminina de futebol é a falta de incentivo, de uma liga nacional e ter que sobreviver longe do país de origem no enfrentamento perene de diversas dificuldades que poderiam ser evitadas – se o país tivesse uma política esportiva efetiva. Maria Ivete Gallas, atleta e técnica que integra a história recente do futebol feminino nacional, hoje é motorista de ônibus: “verás que um filho teu não foge à luta”, mas por vezes, é obrigado a se transferir para os palcos de outras lutas.

O pecado de Hipólito seria o excesso de confiança, ou a traição de seu inconsciente? Creio que o único representante de um país em sua modalidade, deve se apoiar em sua confiança – o principal fator que o leva até ali. O pecado de Hipólito foi achar necessário pedir desculpas para o Brasil por não ter conseguido uma medalha, sendo que o Brasil não se desculpa por Diego Hipólito ter nascido aqui. Um pecado de quem sofre o peso de ser a única esperança de medalha para o Brasil em toda a ginástica. Um peso injusto, que provavelmente seria minimizado com a reformulação da educação nacional, a tornando indissociável da prática esportiva (vide Cuba).

Um dos atletas do revezamento masculino pediu desculpas para o Brasil por ter ficado em 4º lugar... Um atleta do judô chorou e pediu perdão aos pais pela falta de medalhas... E assim sucessivamente... Muitos de nossos atletas vão retornando à pátria amada constrangidos e escutando diversas ladainhas sobre falta de confiança e etc. Mas, todos nós sabemos que, neste país, um campeão não se torna campeão através do Brasil, e sim, apesar do Brasil.

À falta de uma política esportiva, soma-se a cultura enraizada em um povo. O Brasil deve parar de ser exclusivamente o país do futebol. Pois, o vôlei, com muito trabalho e bons resultados, consegue dividir um pouco das atenções. Mas, e os outros rostos anônimos que partem para uma jornada olímpica? Teriam nomes?

Sabe-se do nome de atletas contratados por grandes times, antes mesmo de passarem pela puberdade. Em geral, sabe-se o nome ou reconhece-se o rosto de um jogador de futebol que joga ao norte da Croácia. Mas... alguém sabe o nome de dois atletas da seleção feminina ou masculina de handball que estiveram nas últimas duas olimpíadas? Alguém saberia me contar sobre alguma Triatleta superstar que treina diariamente no Brasil? Será que todos sabem quem foi Maria Esther Bueno? Certamente, todos sabem quem foi Didi.

Dois nomes da última seleção brasileira de basquete feminino? Algum atleta da esgrima? As mocinhas simpáticas do revezamento do atletismo? O rapazinho esbelto escondido em uma raia qualquer? Algum mero levantador de pesos? Apenas um representante do salto ornamental? Algum ciclista? Por favor, não sejam tímidos. Podem me dizer, sem constrangimento algum, que desconhecem os inúmeros rostos que desfilam em nossa delegação. Pois, eu também desconheço. Mas, certamente, sei muito bem quem é Alexandre Pato.

Em Cuba, muita coisa falta. Mas, o que não falta é o ensino de xadrez e de diversas modalidades esportivas para seus estudantes. No Brasil, o que falta – e muito - é a correspondência da beleza do hino ao próprio país.